sexta-feira, 1 de maio de 2020

Novidades para ritmar a Quarentena

Janeiro a Abril de 2020



Em uma época atípica, resolvi tentar dar uma pequena colaboração para quem está em casa. Em uma situação completamente nova para todos nós, nada mais adequado que novidades para acompanhar esse nosso tempo.
Então, resolvi indicar uma pequena playlist aqui nesse blog, já que fiz poucos textos falando especificamente sobre música neste espaço até hoje. Seguem 8 novidades musicais, nacionais, lançadas nos primeiros 4 meses do ano de 2020 e que julgo serem boas músicas.
Com isso, já tento contestar o discurso que ouvi algumas vezes de que não se faz mais música boa atualmente. Quero tentar mostrar que esse argumento é muito mais baseado no saudosismo do debatedor do que na realidade.
Vamos à lista:

  • ARNALDO ANTUNES – O REAL RESISTE


Essa música, na verdade, foi lançada como single no final de 2019, mas como o álbum ao qual ela pertence, homônimo, foi lançado já em 2020, coloquei na lista.
O Arnaldo Antunes é um dos maiores letristas da história da música brasileira, e mais uma vez ele conseguiu compor algo primoroso. Do jeito que só ele escreve, a letra fala sobre todas as coisas terríveis e até inacreditáveis que vem acontecendo, especialmente no Brasil: “autoritarismo”, terraplanistas” e “tirania eleita pela multidão”; e cita que esse tipo de coisa “só pode ser ilusão”. Nesse contexto entra a frase que dá o título à música: “O real resiste”, dizendo que a realidade, cedo ou tarde, se impõe, sempre acaba resistindo.
A letra foi escrita antes da chegada do Coronavírus por aqui e, até por isso, pode ser considerada meio profética. Esses dias li um pequeno texto que dizia algo mais ou menos assim: Nada como uma ameaça de morte generalizada para restabelecer a autoridade da ciência sobre os fatos e seus desdobramentos. Brincar de Terra plana é fácil. Morrer de Coronavírus já é menos sedutor.
Ou seja, a ciência e as Universidades, tão atacadas pelos lunáticos na internet e até por inacreditáveis Ministros do Governo Federal, tiveram que ser chamadas para socorrer a população quando o terror de uma pandemia bateu à nossa porta. O REAL RESISTE!!!


  • RASHID – APAVÔRU


Essa música representa muito bem a linha moderna de RAP, com instrumentos musicais muito bem tocados e ótimas melodias misturados com o tradicional Rhythm And Poetry. A música tem uma excelente energia e um ritmo contagiante.
A propósito, o disco inteiro, intitulado 7ão Real é muito bom, recomendo a audição completa do mesmo. Faço uma menção especial também à música Todo Dia, que fala de racismo, um tema bastante recorrente no RAP por razões óbvias, e aproveita para atirar críticas certeiras:
Em meio à nuvem de fumaça e efeito moral
De uma falsa moral
Seca o choro na bandeira
Enquanto nossas lágrimas regam o seu laranjal”.


  • TRUPE CHÁ DE BOLDO – ARQUITETOTAL


Essa banda não é exatamente uma banda convencional. A banda possui 13 integrantes. Tem fortes influências da Tropicália: Tom Zé, Mutantes...
Essa música que listei tem fortes aspectos progressivos, com rifes marcantes, variações de ritmo e instrumentos muito bem tocados. Definitivamente, na minha modesta opinião, uma ótima composição, a altura de grandes clássicos da música brasileira.

  • VIVENDO DO ÓCIO – CÊ PODE


A banda baiana lançou recentemente um disco com 10 músicas. Basicamente é um bom disco de rock, com boa energia, bons arranjos, boas melodias e bons timbres.
A música Cê Pode é a música de abertura do disco, e é um clamor por diversidade e liberdade, além de trazer ótimos conselhos:
Que adianta riqueza e pobreza de alma?
Adianta ter tudo e viver numa jaula?”.


  • PROJOTA – SALMO 23


Um pouco de religião certamente também é válido durante uma pandemia. Essa música cita um famoso salmo bíblico que diz “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”.
É mais um ótimo RAP com ótima letra e ritmo, o que é bastante comum nas músicas do Projota. A letra conta uma história difícil de vida, mas entrega também uma mensagem de esperança e força muito forte.
Partes da letra são precisas:
Tem gente que é tão pobre que só tem dinheiro
Tem gente que é tão feia que só tem beleza”.


  • ZECA BALEIRO – VOCÊ NÃO QUER DIVIDIR O AVIÃO


Fazer uma relação de músicas feitas no Brasil no período de janeiro a abril e não colocar nenhuma marchinha carnavalesca seria uma grande falha, então acrescentei essa música do disco Escória, do Zeca Baleiro, lançado no período do Carnaval. O disco conta com quatro marchinhas recheadas de críticas sociais e políticas. Vale a pena ouvir todas.
A propósito, é muito comum na história humana que, em períodos nebulosos e sombrios, como o que estamos vivendo no Brasil, a arte floresça de maneira muito forte e contestadora. Isso está cada vez mais visível em vários segmentos artísticos pelo país inteiro. O carnaval, a maior festa popular brasileira, não teria como ficar de fora.



  • LETRUX - SENTE O DRAMA


Letrux é o nome artístico da cantora carioca Letícia Pinheiro de Novaes.
A música que coloquei ali tem variações rítmicas muito interessantes e um instrumental realmente muito bom.


  • GABRIEL ELIAS - PENSAMENTOS SOLTOS


Para deixar a lista mais eclética, acrescentei um reggae, no estilo bem clássico que é feito aqui no Brasil.
A música tem uma boa energia e uma mensagem bastante positiva.


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Espero que gostem. 

Sugestões, críticas, elogios e comentários são sempre muito bem vindos.

Se quiserem, aqui tem os links para a playlist diretamente nas plataformas.

Spotify (agradecimento especial ao meu amigo Diego Altieri):

https://open.spotify.com/playlist/4n8WNhgfW4K7Ztnp3i0STi?si=MCMVaCVbRv6fGaPCaoO5zg


Youtube Music:

 https://music.youtube.com/playlist?list=PLU_xp8y4gdgPrEAqNpdDblVb7gTat0mKX



E lembrem-se:

Diversos estudos científicos no mundo inteiro mostram claramente que, na pandemia, quando é diminuída a taxa de isolamento social, o número de mortes aumenta de maneira exponencial. Escrevi semana passada sobre isso neste link: O País dos Ratos.

Então, faça o possível (e até um pouco mais) para ficar em casa. Salve vidas, proteja sua família e toda a sociedade.

Ficar em casa é um ato de cidadania e, no Brasil, é um ato revolucionário.