terça-feira, 5 de junho de 2018

INTERVENÇÃO MILITAR? Não seja ingênuo!




A recente greve dos caminhoneiros trouxe à tona, mais uma vez, o assunto “intervenção militar”, como uma possível medida para retirar o atual Presidente do posto.

Mas pedir ou falar ou pensar em “golpe militar” nesse momento só beneficia a uma pessoa, exatamente ao Sr. Michel Temer, a mais execrável personalidade política da história da República, de acordo com o jornalista Luis Nassif. Falar em “intervenção militar” passa a sensação de que atualmente vivemos em condições de normalidade institucional plena, o que, definitivamente, não é verdade. Vamos aos fatos:

O Sr. Michel Temer chegou à Presidência através de um golpe. Embora até hoje haja todo o tipo de acrobacias teóricas para contestar essa tese, ela é absolutamente clara, uma vez que a manobra que cassou o mandato da Presidente eleita e levou Temer ao poder foi executada a partir de mudanças de conceitos legais e entendimentos históricos de tribunais, órgãos de controle, parlamento e instituições diversas. Mas não é esse o foco do texto, uma vez que esse assunto já foi bastante debatido. O foco é o que aconteceu após a posse do Sr. Michel Temer na Presidência.

Primeiramente, houve forte repressão aos movimentos que pediam a saída do ilegítimo Presidente. Em seguida, começaram a ser empurradas, em parceria com grande parte do Congresso, medidas e emendas à Constituição totalmente contrárias ao plano de governo vencedor nas urnas, medidas essas que privilegiam grandes empresários e especuladores financeiros, em detrimento da grande maioria dos brasileiros.

A PEC 241 congelou os gastos públicos por 20 anos, incluindo nesse congelamento setores importantes e já precários, como saúde e educação. Na prática, considerando o crescimento demográfico e as variações de receitas da União, significa a total impossibilidade de qualquer governo, pelos próximos 20 anos, aumentar investimentos em saúde ou educação, e pior ainda, significa a diminuição de recursos em relação ao que é investido atualmente. Isso, infelizmente, significa mais exclusão social, aumento da mortalidade infantil e mais mortes nas filas de postos de saúde e hospitais.

Seguiu-se e então com a tal “Reforma Trabalhista”, apresentada e votada em um tempo inacreditavelmente curto, sem discussão nenhuma com a sociedade e atropelando a oposição no Congresso. Essa atrocidade retirou direitos históricos consagrados dos trabalhadores brasileiros, permitindo a terceirização da atividade fim de uma empresa, trabalhos precários, trabalho de gestantes em ambientes insalubres dentre outras abominações. O projeto de Lei do executivo foi aprovado com facilidade na Câmara.  Os senadores, mesmo percebendo e apontando as desumanidades do projeto, não apresentaram emendas, dessa forma o texto não precisou retornar à Câmara e foi aprovado integralmente. Na prática, significa condições precárias e desumanas de trabalho, uma verdadeira tortura de milhões de pessoas por muitos anos. Essa insanidade levou o Brasil a entrar na “lista negra” da Organização Internacional do Trabalho (OIT), como país que desrespeita as convenções internacionais do trabalho. Mais informações sobre essa fato vexatório para o país podem ser lidas aqui: 

Partiu-se então para a “Reforma da Previdência”, cuja proposta do Governo faria os brasileiros trabalharem até uma idade mínima maior que a expectativa de vida de várias regiões do país, ou seja, obrigaria milhões de brasileiros a contribuírem com a previdência durante toda a sua vida e trabalharem até o dia de sua morte. Curiosamente, essa proposta de “reforma” não incluiu  os militares, ou seja, esses não perderiam nenhum de seus direitos (e privilégios) atuais.

Os mesmos militares que ajudaram o governo na desastrosa intervenção na segurança pública do Rio de janeiro, que gastou bilhões de reais sem efeito prático algum. E, recentemente, ajudaram a desmantelar a greve dos caminhoneiros. O mais curioso é que vários brasileiros, em apoio aos caminhoneiros, pediram a tal “intervenção militar”, mas foram exatamente os militares que ajudaram o governo a acabar com a greve. Se você for um desses brasileiros, sinto te dizer que você fez papel de idiota. Segue abaixo um link da BBC que mostra o protagonismo, inédito desde a redemocratização, de militares em cargos de alto escalão do governo. É impressionante: 

Especificamente em relação ao preço dos combustíveis, que levou à greve dos caminhoneiros, a responsabilidade óbvia é da bizarra política de preços da Petrobras, que beneficia empresas estrangeiras e acionistas em detrimento da economia interna. Segue, para ilustrar, excelente texto do professor Juremir Machado sobre a relação quase "afetiva" entre os grandes canais de mídia brasileiros com o ex-diretor da Petrobras, Pedro Parente, e sua bisonha política aplicada na estatal, com aval do "Sr. Mishell Temer", segundo citação do próprio Juremir:

O professor mostra no link acima de maneira muito simples e didática que a atuação anti-nacionalista dos colunistas dos grandes jornais e canais de TV é assombrosa e muito clara. Todos sabem das gordas verbas publicitárias do governo (todos os governos) para a grande mídia, que serve muitas vezes como moeda de troca para um apoio junto à opinião pública. Mas a relação do atual governo com a mídia é muito mais forte que isso, é ideológica. Há diversas vertentes de economistas no planeta, com muitas ideias e bases ideológicas diferentes. “Coincidentemente”, no Brasil, todos os analistas de economia de todos os grandes veículos de comunicação (Globo, Band, SBT, Record, Veja, Estadão, Folha...) possuem exatamente a mesma opinião e a mesma "linha de raciocínio" sobre qualquer tema. Essa "linha de raciocínio" é exatamente a linha praticada pelo governo, que é a linha que privilegia o mercado financeiro em detrimento das pessoas, que mede cada aspecto da vida de cada ser humano através de cifras e valores de ações na bolsa. É a vertente entreguista, que beneficia os bilionários donos dos meios de comunicação do Brasil, os quais só poderiam mesmo estar em sintonia com o governo mais entreguista da história da República, que tenta, dia após dia, destruir qualquer resquício de soberania que possa existir no país e entregar cada pedaço do patrimônio público (físico, estratégico e intelectual) para empresas estrangeiras.

Para terminar a tragédia, temos uma justiça que age por conveniência, de acordo com o tempo e com as convicções mais apropriadas para o momento atual, pautada principalmente por esses setores da mídia que citei acima. Temos uma Presidente do Supremo Tribunal que se encontra fora da agenda, tarde da noite, com o Presidente da República investigado. A mesma ministra que deu o voto de minerva para manter o principal líder da oposição atrás das grades. A propósito, esse líder foi processado e condenado em duas instâncias em um processo muito questionado por diversos especialistas em direito do mundo todo, em um tempo recorde, jamais visto em qualquer outro processo no país, exatamente o tempo  hábil para que o mesmo pudesse ser impedido de disputar a eleição presidencial, o que deixa um indício muito forte de se tratar de uma prisão puramente política.

Recapitulando então:

- REPRESSÃO
- ASSASSINATOS
- TORTURA
- MILITARISMO
- MÍDIA CONIVENTE 
- JUSTIÇA CONTROLADA
- PRESOS POLÍTICOS

Eu certamente não temo uma intervenção militar e um regime de exceção, porque, definitivamente, já estou vivendo em um.