Bolsonaro Presidente e o senso comum histérico

Li uma notícia há alguns dias no site do Jornal Correio do Povo que citava que o Deputado Jair Bolsonaro admitia a possibilidade de concorrer à Presidência da República em 2018 e sua primeira medida comentada nessa mesma entrevista seria acabar com qualquer organização que defenda os direitos humanos, tratando “direitos humanos” como se fosse um termo simplesmente relacionado à “defesa de bandidos”. Mas isso não me deixou chocado, o que realmente surpreende é a quantidade de pessoas comentando a notícia e dando total apoio à candidatura e às ideias do militar aposentado. É intrigante o fato de existirem tantas pessoas apoiando uma ideia tão absurda como o fim dos direitos humanos sem ao menos fazer alguns questionamentos absolutamente simples: - Por que existem organizações e pessoas que lutam pelos direitos humanos? – o que realmente significa a defesa dos direitos humanos? – Existiram vítimas de injustiças e violação de direitos humanos no Brasil? - Existe alguma nação desenvolvida, com índice de desenvolvimento humano realmente elevado, onde os direitos humanos dos cidadãos não são amplamente respeitados? Será que para resolver os problemas do país, as soluções são mesmo tão simples? E se são, por que ninguém resolveu ao longo de 500 anos?

Lamentavelmente, todos os discursos e ideias do deputado estão baseados na exploração do preconceito e da falta de conhecimento das pessoas, portanto a abordagem é sempre absolutamente superficial e até infantil, e dessa forma ele encontra uma legião de fãs para sair divulgando essas ideias, pessoas essas que falam demais exatamente por não terem nada a dizer (parafraseando Renato Russo). Somando isso ao terror diário espalhado pela grande mídia, que se alimenta de sangue e de medo, cria-se essa legião de “fãs” que seguem um boçal que se refere aos refugiados de guerra como “escória da humanidade”, que ameaça estuprar uma Deputada no microfone do plenário da Câmara, que ataca qualquer política de inclusão, que ataca qualquer minoria oprimida ou que espalha temores absurdamente bizarros como “estamos virando uma ditadura comunista”.  

A propósito, sempre quando ouço pessoas difundindo essa ideia de “ditadura comunista” fico extremamente constrangido, é tão absurdo que parece até piada, e mais uma vez, não é necessário ser nenhum gênio para questionar um pouco: - Como pode um comunismo onde os bancos, privados inclusive, e as multinacionais a cada ano aumentam mais e mais seus lucros exorbitantes? - Como pode uma ditadura onde qualquer pessoa ofende e agride a presidente da república durante todo o dia, distribui um monte de mentiras sobre qualquer tema, manipula a história, sem que absolutamente nada lhe aconteça? Não faz nenhum sentido, quem dera a ditadura de 64 tivesse sido assim.

O ponto onde quero chegar é o seguinte: devemos nos preocupar com essas pessoas e essa difusão de ideias absurdas radicais de exclusão e ódio?

Sem dúvidas, essas pessoas não podem ser ignoradas, até porque o próprio Deputado Bolsonaro, por exemplo, fez inacreditáveis 464 mil votos no Rio de Janeiro em 2014, e temos diversos exemplos no mundo de tiranos que ascenderam ao poder com esse mesmo tipo de discurso e fizeram grande estrago, o exemplo mais óbvio é o de Adolf Hitler (obviamente guardando as devidas proporções, principalmente em relação à capacidade intelectual dos dois).

Entretanto, acredito também que não devemos supervalorizar o poder desses ignorantes que saem distribuindo agressões e difundindo verdades absolutas e jargões superficiais sobre assuntos dos quais não têm conhecimento. Se pensarmos um pouco e analisarmos efeitos práticos, perceberemos que o poder dessa histeria não é tão grande e, no final das contas, o que realmente importa é que existem pessoas que lutam ou que fazem parte de cargos importantes, decisivos, que se esforçam para fazer as coisas da melhor forma e da maneira mais justa possível; que existam pessoas que estudam, trabalham, buscam uma forma de ajudar aos que precisam, dividem, não pensam em ter privilégios, lutam para que o mundo seja efetivamente melhor e mais justo para todos. Essas pessoas realmente podem mudar as coisas para melhor, o resto é papagaiada e praticamente irrelevante. A distribuição gratuita de coice para todo o lado não melhora e não muda nada. Os milhares de comentários diários de gênios que têm a solução mágica para todos os problemas sem nunca sequer terem lido um livro são absolutamente inúteis. Se as coisas mudassem baseadas apenas no senso comum histérico e no pensamento simplista, ainda viveríamos em cavernas, mas enquanto os cães ladram, a caravana passa. 

__________________________________________________________________________

A propósito, o Deputado Bolsonaro esteve em Porto Alegre há alguns dias, quando participou do programa Esfera Pública da Rádio Guaíba, onde foi entrevistado pelo brilhante jornalista e historiador Juremir Machado. Vale a pena dar uma lida sobre as impressões do Juremir a respeito do Deputado em seu blog. É um texto curto, mas esclarecedor. Segue o link:

http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=8203

Sobre o estímulo da mídia ao senso comum fascista, segue texto do ótimo jornalista Miguel do Rosário. Esse sim demanda um pouco mais de tempo e atenção para ler, mas também vale muito a pena.

http://www.ocafezinho.com/2016/01/25/36541/

E para ilustrar os comentários em apoio ao Bolsonaro, resgatei uma postagem de setembro de 2014 do Google+, quem quiser dar uma passeada nos comentários, segue o link: https://plus.google.com/109303716191030679822/posts/UAkaqatPw7C
Saliento que os comentários excessivamente agressivos ou fascistas foram apagados na ocasião, mesmo assim sobraram várias “pérolas”. Tirem suas conclusões.