Direto ao ponto: Estou de saco cheio.
Não aguento mais receber manifestações de pessoas sobre temas
polêmicos, sem base técnica e com soluções simples para todos os
problemas.
Por exemplo, as crescentes correntes e materiais circulando na
internet defendendo a facilitação na compra de armas de fogo pelo
cidadão se baseiam em um conceito muito estranho:
Querem colocar uma arma na mão de cada esquentadinho no trânsito;
uma arma na mão de cada namorado ciumento; uma arma na mão de cada
homofóbico agressivo e isso diminuirá os números da violência.
Uau!!! Tudo sempre em nome da liberdade para o “cidadão de bem”
se defender.
Nesse caso, “cidadão de bem” é um termo que é utilizado para
separar as pessoas por castas. O típico “cidadão de bem” é
sempre branco, heterossexual e pertencentes às classes média e
alta.
O “cidadão de bem” envia correntes simplistas na internet porque
acha que teoria é só “blá blá blá”, e as coisas devem
funcionar na prática, lógico que desde que a prática esteja de
acordo com seus princípios ideológicos. Por isso que o “cidadão
de bem” não gosta de saber a opinião de professores, doutores,
filósofos e historiadores. Considera isso perda de tempo.
O “cidadão de bem” reclama do que chama de indústria da multa,
pensa que deve ter o direito individual de dirigir bêbado e correr
nas vias públicas com seu automóvel, mesmo que isso coloque em
risco a vida de outras pessoas. O “cidadão de bem” quer usar
sozinho 10 metros quadrados das vias com seu potente automóvel e
esbraveja se o poder público destinar um espaço ou dê qualquer
prioridade para os usuários do transporte público coletivo, os
quais utilizam 0,5 metro quadrado da mesma via cada um.
O “cidadão de bem” acha que os maiores problemas do país são o
preço da gasolina e as más condições da rodovia que liga sua
cidade ao litoral.
O “cidadão de bem” acha que não deve pagar impostos e que o
estado deve ser diminuído, praticamente extinto, mas obviamente tem
dinheiro suficiente para contratar saúde e educação privada para
seus filhos.
O “cidadão de bem” se delicia quando a polícia invade favelas,
atenta contra os direitos básicos das pessoas pobres e executa jovens
negros. O “cidadão de bem” acha que direitos humanos são uma
bobagem, mas logicamente nunca teve e nunca terá seus direitos mais
básicos e fundamentais violados pela força do estado.
O “cidadão de bem” não se diz racista, mas é contra o sistema
de cotas. Enche o peito pra falar em meritocracia, como se tivesse
tido as mesmas condições de competição que as crianças
subnutridas de áreas vulneráveis, agredidas e abandonadas pelo
estado. O “cidadão de bem” acha perfeitamente normal que algumas
crianças privilegiadas tenham acesso a um tipo de educação e
outras acabem se obrigando a receber sua educação de um sistema
público precário e abandonado.
O “cidadão de bem” compartilha vídeos do escroto do Danilo
Gentili e acha genial.
O típico “cidadão de bem” é egoísta, intolerante e agressivo.
Acha que seus direitos individuais estão acima dos direitos comuns.
Tem um sentimento de superioridade sobre a “ralé”. Talvez até
não seja “por maldade”, talvez a sua mente seja mesmo muito
limitada, o deixando incapaz de enxergar a sociedade como a
engrenagem complexa que é, incapaz de se colocar no lugar de outras
pessoas, conseguindo enxergar apenas seus próprios problemas e
enxergando a sociedade de uma maneira tão simples quanto um jogo de
futebol: nós contra eles. Mesmo assim, estou de saco cheio.
belo texto, porém deve ter sido triste escrevê-lo
ResponderExcluirParabéns ótimo texto
ResponderExcluirCompartilhado no Facebook. Tenho o mesmo ponto de vista que o seu e, coincidentemente, já havia escrito sobre "isso", esse ser antropomórfico, o cidadão de bem. Prazer em conhecê-lo.
ResponderExcluirO cidadão de bem é um ser patético e irracional, que, apesar de privilegiado na possibilidade de ter uma educação formal de qualidade, segue o senso comum estupidificante.
ResponderExcluirUm ser lamentável, egoísta e mesquinho e que faz muito mal ao Brasil.
O 'bom moçismo' o cidadão de bem e os politicamente corretos (diferente de ser correto e honesto política e socialmente) são só faces da máscara da moralidade decadente das classe média. Valeu o texto.
ResponderExcluirTive que reler esse, muito bom. Estamos passando por dias difíceis.
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