O ano de 2015 vai chegando ao
fim. Nesse ano o Judiciário no Brasil foi protagonista. De alguns anos para cá,
a partir da eleição do Presidente Lula, a Polícia Federal e o Ministério
Público vêm cada vez mais ganhando autonomia para investigar e, a partir disso,
foram desencadeadas cada vez mais operações, culminando com um 2015 cheio de
notícias nos jornais, com prisões de executivos, banqueiros e políticos. A
sensação nos noticiários é de que o Brasil está sendo passado a limpo e a
corrupção, que desde a chegada dos portugueses nos atormenta, está sendo combatida
finalmente. Então a pergunta que faço é a seguinte:
- AS OPERAÇÕES DA JUSTIÇA ESTÃO
DE FATO AJUDANDO O BRASIL NO COMBATE À CORRUPÇÃO?
À primeira vista e a partir dos
comentários eufóricos na grande mídia a resposta parece óbvia, entretanto no
Brasil há dois campos políticos fortes e bastante distintos, mas percebe-se
claramente que a Justiça é ágil e conta com o auxílio forte de toda a grande
mídia apenas quando as denúncias recaem sobre um desses campos políticos. Isso
é muito claro quando percebemos que ainda há uma infinidade de perguntas sem
respostas. Cito apenas algumas:
- Por que o mensalão tucano, de Minas Gerais, que aconteceu
em 1998, antes do badalado mensalão petista continua parado na Justiça? - http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/11/1701423-mensalao-tucano-continua-parado-na-justica-de-minas-gerais.shtml
- Por que o inquérito sobre o cartel de trens nos sucessivos
Governos do PSDB em São Paulo está completamente parado há 1 ano na Justiça? - http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/11/1709618-inquerito-sobre-cartel-de-trens-de-sao-paulo-esta-parado-ha-um-ano.shtml
- Por que a compra de votos para a emenda da reeleição do
Fernando Henrique Cardoso nunca foi investigada, apesar das provas cabais? - http://jornalggn.com.br/noticia/provas-da-compra-votos-pela-reeleicao-de-fhc-eram-cabais-conta-jornalista
- Por que o Procurador Geral da República arquivou denúncia
da Lava-a-jato contra o ex-senador Aécio Neves, acusado pelo maior delator de
toda a operação, o doleiro Alberto Youssef. E por que a denúncia ganhou
repercussão em todo o mundo, menos nos jornais da grande mídia do Brasil? - http://jornalggn.com.br/noticia/o-mundo-noticiou-que-aecio-neves-teria-recebido-propina
- Por que a lista de Furnas, que envolve pagamento de
propinas para diversos políticos do PSDB e do DEM, mesmo após ter sua
autenticidade confirmada não é investigada pela Polícia Federal e Ministério
público? - http://www.conversaafiada.com.br/politica/2014/12/19/a-lista-de-furnas-e-autentica
- Por que que mesmo com tantos indícios de irregularidades
na execução do aeroporto de Cláudio, executado pelo Governador Aécio Neves nas
terras da sua família, os processos de investigação são arquivados? - http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-a-denuncia-contra-o-aeroporto-do-tio-de-aecio-foi-arquivada-por-joaquim-de-carvalho/
- De quem são os 450kg de pasta de cocaína encontrados no helicóptero
de propriedade do Senador Zezé Perrella, grande aliado político de outro
mineiro já citado acima? - http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2013/11/helicoptero-com-cocaina-no-es-e-da-familia-do-senador-zeze-perrella.html
Enfim, eu poderia ficar aqui por
horas citando perguntas sem resposta como essas e, a partir da existência delas,
chego a uma conclusão: A Polícia Federal e o Judiciário Brasileiro, com apoio
total e irrestrito da mídia, não estão fazendo justiça, estão apenas fazendo
política, pois a justiça só pode ser definida assim se for imparcial e tiver o
mesmo peso para todos os cidadãos. Dessa forma, volto para a pergunta que fiz
no início do texto:
- AS OPERAÇÕES DA JUSTIÇA ESTÃO
DE FATO AJUDANDO O BRASIL NO COMBATE À CORRUPÇÃO?
Na minha opinião, é evidente que
NÃO.
Fazendo justiça seletiva, não se
combate absolutamente a corrupção, só se enfraquece um dos campos políticos,
dando mais poder ao outro, que, por sua vez, continua impune e agindo de forma
ilícita, sem qualquer constrangimento. Efetivamente esse tipo de “justiça” não
ajuda em absolutamente nada, pois não modifica os vícios do sistema, apenas
transfere o poder político e manipula a opinião pública. Sou totalmente
favorável a que todos agentes públicos sejam julgados pelos seus atos e, em
caso de crimes de corrupção, sejam presos, TODOS ELES. Entretanto repito que
justiça seletiva é completamente ineficaz, é só mais do mesmo, mais política em
um país que precisa efetivamente de mais justiça.
A justiça, por
definição, deveria valer da mesma forma para todos.
Para completar, faço um capítulo específico sobre o grande
circo político armado pela grande mídia em torno desses seletivos fatos para
aniquilar a opinião pública dos brasileiros.
A grande mídia tem trabalhado em
conjunto com os delegados da Polícia Federal, recebendo vazamentos seletivos de
delações, antes mesmo dos advogados dos acusados, mas apenas a parte que
interessa é vazada. Há anomalias jurídicas diversas nos processos, prisões arbitrárias,
coações aos réus, atitudes que atentam contra o estado democrático de direito,
mas todas com o devido consentimento e respaldo dos velhos barões da mídia e de
seus jornalistas, que acham tudo normal, ao menos enquanto as atrocidades prejudicam
o lado que desejam atacar, aí tudo está valendo, em nome da “moralidade e
limpeza do Brasil”. Mas qual o interesse dos grandes grupos de mídia em
derrubar o Governo?
Os interesses dos grupos de
mídia, controlados por poucas famílias riquíssimas, são diversos, suas razões e
manobras nem sempre são claras, mas o golpismo está no DNA da nossa imprensa.
Em 1964, o Sr. Roberto Marinho
foi fundamental no golpe de estado que colocou os militares no poder, com uma
campanha sórdida e manipulações de todas as espécies, ajudou a implantar a
ditadura no país. Como prêmio, recebeu uma valiosa concessão de televisão do
Regime Militar e montou a TV Globo, de forma ilícita, com dinheiro do exterior,
o que era vedado pela Constituição, mas os militares ajudaram com isso também e
receberam apoio da TV Globo durante todo o vergonhoso regime ditador, que
matou, torturou, roubou, tudo nas barbas do Sr. Roberto Marinho, que nunca
moveu uma palha contra os generais.
No livro do jornalista Paulo
Henrique Amorim, intitulado brilhantemente de “O Quarto Poder”, ele explica que
posteriormente, já no regime democrático, durante o governo do Presidente
Sarney, quem realmente governou o Brasil foi o Sr. Roberto Marinho. Ainda no
mesmo livro, o jornalista cita, com todo o conhecimento de causa de quem vivenciou
de dentro toda a história da imprensa brasileira:
“Em nenhuma democracia séria do mundo jornais conservadores, de baixa
qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a
importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o
PIG, Partido da Imprensa Golpista”.
Qual o direito da TV Globo, por
exemplo, de esconder o escândalo bilionário de corrupção do CARF, investigado
através da operação Zelotes, onde só a RBS, sua maior afiliada, está envolvida
em um escândalo de sonegação de cerca de R$ 600 milhões. Qual o direito que a
mídia tem de esconder fatos importantes que vão contra seus interesses? E qual
o direito que a mídia tem de escolher um lado político e trabalhar para ele?
A distinção é absurdamente
descarada, nas barbas de todos os brasileiros, mas alguns insistem em não
querer enxergar. Por exemplo, a mídia criminaliza doações de empresas para o
PT, que efetivamente devem ser investigadas e se houve ilícitos, devem ser
apurados, entretanto, doações das mesmas empresas para o PSDB, com valores
iguais e às vezes até superiores, são consideradas normais, e não levantam
qualquer suspeita, nem da mídia, nem de nossas instituições “democráticas”, nem
de nossos heroicos Juízes. Por que?
Esse circo está armado há tempo. Enquanto
a mídia toda atacava indiscriminadamente um lado, o “outro lado” foi avançando
em pautas como a liberação de agrotóxicos proibidos em vários países, a
diminuição das leis trabalhistas, a retirada de direitos das mulheres, a não
rotulagem de transgênicos, o ataque às minorias e, no golpe mais genial e
sádico, elegeram o Sr. Eduardo Cunha como Presidente da Câmara dos Deputados,
um Deputado com participação no esquema PC Farias, acusado de superfaturamento
e irregularidades em licitações na TELERJ, fraudes em licitações na CEHAB-RJ,
participação na já mencionada Lista de Furnas, envolvimento na Lava-a-jato e
contas secretas na Suíça. Isso nos leva a ainda mais perguntas: Por que nenhuma
instituição nunca solicitou ao STF a prisão do Eduardo Cunha? Por que o
Procurador-Geral da República Rodrigo Janot não pediu o afastamento dele da
Presidência da Câmara dos Deputados, uma instituição de extrema importância
para a democracia?
E quando se imagina que se chegou
ao fundo do poço, a tragédia ganha mais um apoteótico capítulo, que nem o mais
criativo dos roteiristas de ficção poderia pensar: Esse mesmo Eduardo Cunha
abre um processo de impedimento contra a Presidente da República, eleita pela
maioria dos brasileiros e contra quem não pesa nenhuma denúncia de corrupção,
e, incrivelmente, a mídia trata disso como uma coisa normal, aceitável. Parece
até piada, seria mesmo muito engraçado se não fosse trágico. Como pode ter
qualquer valor um processo aberto por esse cidadão, nessa situação em que se
encontra? Nossas instituições foram contaminadas pelo “Quarto Poder”, o Brasil,
mais do que nunca, virou um verdadeiro circo. Os barões de mídia montaram um
gigantesco circo, nos colocaram para dentro e agora colocaram fogo.
A conclusão é óbvia: enquanto não
aparecer ninguém para enfrentar esse vergonhoso monopólio de comunicação, que despolitiza e manipula, que não
existe em nenhuma democracia consolidada no mundo, seremos sempre uma republiqueta e nossas instituições
jamais serão verdadeiramente democráticas.
Que falta gigantesca que faz o velho
Leonel.
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