segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Gestão pífia e a máfia do futebol


Vou escrever sobre um assunto recorrente aqui neste espaço: monopólio de mídia no Brasil. Dessa vez, escreverei especificamente em relação às transmissões do futebol brasileiro na televisão e especialmente aos torcedores do Internacional. Os torcedores do Inter precisam saber o tipo de negócios e contratos que estão sendo assinados no Beira-Rio e a direção do Internacional precisa responder algumas perguntas que, pelo jeito, muitas poucas pessoas sabem a resposta.

Antes de chegar no ponto que quero, vou relembrar uma história que aconteceu em 2005, a qual a maioria dos colorados lembra bem: 

O Internacional liderava o Campeonato Brasileiro quando surgiram denúncias sobre um árbitro que supostamente havia participado de um esquema de manipulação de jogos. Esse árbitro havia apitado 13 jogos do campeonato. O STJD (tribunal de justiça desportiva) informou que investigaria o caso, analisaria as imagens para verificar se houve alguma interferência e tomaria as providências legais cabíveis.

A Rede Globo imediatamente tomou partido e tomou a frente da situação, pressionando em todos os seus programas esportivos pela anulação das 13 partidas, uma vez que essa anulação beneficiaria o Corinthians, clube com o qual a TV Globo tem um retorno comercial muito maior em relação ao Internacional. De repente, o STJD mudou radicalmente de opinião de uma hora para outra e, através de um ato do seu presidente (um desembargador investigo ilegalmente no cargo), sem qualquer análise ou investigação e, muito pior, sem dar qualquer chance de defesa aos interessados, anulou todos os jogos que o árbitro em questão havia apitado, em um ato absolutamente peculiar, jamais visto na história do esporte profissional no planeta. O Corinthians passou, com uma “canetada”, a ser o líder do campeonato e o Internacional passou a ser o terceiro colocado.

Na ocasião, a torcida do Inter protestou muito, mas foi boicotada pela TV Globo. Havia, em um jogo contra o Palmeiras no Beira-Rio, 30 mil colorados usando nariz de palhaço e uma bandeira de 150 metros quadrados solicitando socorro à FIFA. A TV Globo transmitiu o jogo para o Brasil inteiro sem filmar a torcida do Inter uma única vez, como também não citaram os protestos em nenhum dos seus jornais esportivos fora do Rio Grande do Sul. Esse é o grande problema de uma mídia monopolizada. A informação passada às pessoas atende apenas aos interesses dos donos do conglomerado gigantesco de comunicação.

No final da história, os jogos anulados foram repetidos e o Corinthians ganhou 4 pontos que havia perdido, ganhando o título ao final do Campeonato por 3 pontos de vantagem em relação ao Inter. Cabe citar ainda o confronto direto entre as duas equipes, quando o árbitro Márcio Rezende de Freitas não deu um pênalti claro para o Internacional e ainda expulsou o jogador que sofreu o pênalti. No ano seguinte ele se aposentou e foi contratado para ser comentarista de arbitragem. Adivinhem em que canal?

Mais tarde, a justiça comum analisou o caso, não encontrou qualquer indício de manipulação nos jogos e absolveu o árbitro que supostamente havia manipulado resultados. Mas aí o assunto já era passado. A Globo já havia conseguido direcionar o Campeonato Brasileiro de 2005 para o Corinthians. Assunto encerrado.

Mas citei essa história por uma questão muito importante para chegar ao ponto que quero: Na ocasião, o atual Presidente do Internacional, Vitorio Piffero, era o vice de futebol.

Por que o Internacional então não rescindiu o contrato de transmissão de seus jogos com a TV Globo?

Bom, aqui no Brasil há um detalhe curioso, toda a legislação sobre qualquer tema que interesse à Rede Globo, beneficia a Rede Globo. No caso das transmissões esportivas, a lei brasileira é um convite ao monopólio. Diferentemente de vários países desenvolvidos, aqui, para transmitir uma partida de futebol, a emissora deve ter contrato com os dois clubes, e não só com o clube mandante do jogo. Bom, então a Globo, usando seu poder, fecha com os dois clubes de maior torcida do Brasil deixando todos os outros reféns da emissora. Simples assim. 

Cabe ressaltar que, em 2011, o Clube dos 13 (associação representativa dos grandes clubes do Brasil) resolveu finalmente fazer uma licitação ABERTA, com regras claras, como é em TODOS os países do Mundo, para definir quem transmitiria o Campeonato Brasileiro em TV aberta. E...  a associação simplesmente se desmantelou, misteriosamente. Do dia para noite, vários clubes se desassociaram do Clube dos 13 e as transmissões continuaram sendo feitas como sempre foram, com contratos de exclusividade com a TV Globo, sem concorrência.

O tempo passou e chegou ao Brasil uma empresa que resolveu, ao menos na TV fechada, enfrentar esse monopólio e negociar transmissão com alguns times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Considerando a história do Internacional que contei acima e considerando quem é  o atual presidente, imaginei que era obrigação do Inter estar na vanguarda desse movimento e fechar o contrato com o canal "Esporte Interativo". Foi exatamente o que aconteceu, mas o Internacional fechou apenas por dois anos (2019 e 2020), sob o argumento correto que, de acordo com o estatuto do clube,  para contratos tão longos havia a necessidade de deliberação e aprovação do Conselho Deliberativo.

Passam-se alguns dias e eis que, surpreendendo a todos, a direção do Internacional subitamente muda suas convicções e fecha um contrato com a Rede Globo a partir de 2021, sem apresentação e discussão no Conselho Deliberativo, e pior que isso, a reunião que estava marcada no Conselho Deliberativo para deliberar sobre o tema teve a sua pauta altarada a, ao invés de deliberação, o presidente do Conselho modificou a pauta para "aprovação" do contrato, não dando tempo para qualquer questionamento dos Conselheiros sobre o tema. 

Informo aos torcedores que alguns grupos de conselheiros estão marcando uma reunião extraordinária do Conselho para questionar e deliberar sobre esse contrato, já que, na prática, o Conselho Deliberativo foi atropelado pela direção, deixando muitas dúvidas e perguntas no ar.

Vou fazer um parêntesis no texto para lembrar que, no Brasil, sempre que um assunto envolve direitos de transmissão esportiva e a Rede Globo, ficam muitas perguntas no ar sem respostas:

- Por que a FIFA faz licitação aberta em todo o planeta para transmissão dos seus eventos, mas aqui no Brasil é sempre entregue de bandeja para a Rede Globo, mesmo essa oferecendo valores menores que a concorrência?

- Por onde anda o executivo Marcelo Campos Pinto, que cuidava dos contratos de transmissão da TV Globo e que depois do FBI deflagrar a operação contra os dirigentes da  FIFA foi mandado embora e "riscado" do mapa?

- Por que todas as tentativas de CPIs do futebol brasileiro acabam se desmontando sem conclusões ou explicações?

- Por que na atual CPI do futebol, que acontece no Senado, a CBF relutou tanto para entregar à comissão os seus contratos com a TV Globo e conseguiu na justiça o direito de não entregá-los? O que escondem esses contratos?

- Por que, antes do FBI desencadear a operação contra dirigentes das Federações, a Globo pagava menos para transmitir a Libertadores da América do que pagava pelo Campeonato Paulista, por exemplo? Como essa conta era possível?

- Por que a TV Globo sempre conseguiu seus contratos de transmissão no Brasil sem licitação aberta e, em muitas ocasiões, oferecendo menos dinheiro que a concorrência?

Enfim, eu poderia ficar aqui horas escrevendo perguntas para as quais não tenho resposta sobre esse tema, mas não é esse o objetivo do texto. O objetivo do texto é questionar a atual direção do Internacional e, para esses questionamentos, sinceramente espero respostas e tenho certeza de que toda a torcida do Internacional as quer:

- Por que um clube que propaganda aos quatro ventos a sua "transparência" nas contas precisa fechar um contrato de transmissão usando os métodos que citei, escondendo os dados até de seu Conselho Deliberativo?

- Se antes o estatuto do clube impedia a direção de fechar contrato de transmissão para 2021 em diante sem aval do Conselho Deliberativo, por que agora foi possível? O que mudou nesse tempo?

- Será que o Sr. Vitorio Píffero foi mesmo vítima do poder da Rede Globo ou é apenas mais um cúmplice desse sistema?

Com a palavra, a direção do Internacional...