Por que existem alguns poucos bilionários no Brasil enquanto
muitas outras pessoas passam fome?
Esses bilionários trabalham mais que os demais? Ou são mais
inteligentes? Eles merecem suas fortunas? É uma questão de sorte?
Por que existem pessoas que trabalham muito durante toda a
sua vida, vários são até considerados bem inteligentes, e mesmo assim não
chegam nem perto de se tornarem milionários?
Por que algumas dessas pessoas, mesmo trabalhando muito e
sendo capacitadas, vivem em condições precárias de vida?
Por que mendigos morrem de frio em frente a prédios com
dezenas de apartamentos desocupados?
Essas perguntas, a princípio, possuem respostas bastante
complexas, certo?
Pois é, mas há alguns dias eu estava folheando a revista do
CREA/RS, edição de maio/junho de 2016, e me deparei com o seguinte gráfico
representativo dos gastos do orçamento público brasileiro:
Só olhando para ele salta aos
olhos a maior parte de todas as respostas para as perguntas que fiz acima. É
tão flagrante que chega a ser constrangedor.
Suponha que você fosse eleito
para administrar o orçamento público e recebesse a informação que estava
faltando dinheiro para os serviços básicos. Suponha ainda que você não tenha
nenhuma noção de administração e finanças, e te mostrassem esse gráfico acima.
Por onde devemos começar a mexer para ajustar o orçamento? Qual item é o mais
crítico?
Uma criança seria capaz de
responder facilmente a pergunta, é tão lógico que chega a ser infantil. Mas
então por que só ouvimos os nossos governantes e nossos jornais citarem o
“rombo” da previdência, o gasto com saúde, educação, programas sociais e quase
nunca ouvimos falar em auditoria e renegociação da dívida pública?
Em resumo, praticamente metade
de todo o nosso orçamento está indo para as mãos de banqueiros e especuladores
financeiros, limpo, “legalmente”, enquanto crianças não têm acesso à educação
básica e enquanto cidadãos que trabalharam a vida inteira estão morrendo nas
filas de hospitais públicos sem atendimento. Esse tipo de gráfico explica em
grande parte porque 0,9% dos brasileiros detêm 60% da riqueza do país. Veja
bem: 46% para a tal dívida, enquanto a menos de 4% vai para a saúde e educação
e pouco mais de 20% vai para custear a tão “badalada” Previdência Social.
Embora houve várias políticas
inclusivas nos últimos anos e houve uma ascensão na renda das classes mais baixas
da pirâmide social, nem o Presidente FHC, nem o Presidente Lula e nem a
Presidenta Dilma tomaram qualquer atitude ou protagonizaram qualquer política
para mexer nos privilégios dos poucos e riquíssimos brasileiros que se
beneficiam da dívida pública para enriquecer sem produzir um único pirulito
sequer. Nenhum deles jamais pensou em auditar essa grotesca e injusta dívida ou
em taxar grandes fortunas. O fato de todos eles terem tido suas campanhas
financiadas por grandes bancos e agentes financeiros deve ser pura
coincidência.
Com o Sr. Michel Temer e sua “ponte para o futuro”
obviamente não preciso nem dizer que não há possibilidade nenhuma de avanço
nesse sentido. Os primeiros discursos de seus ministros apontam como ações para
resolver o problema do orçamento público a Reforma da Previdência (fazendo
novamente o trabalhador assalariado pagar a conta, se possível trabalhando e
“contribuindo” até o dia de sua morte) ou então a genial “desvinculação de
gastos públicos”, que retira a obrigatoriedade de reservar uma parte do
orçamento para um determinado fim, como saúde e educação. Na prática, acabará
diminuindo ainda mais os recursos para essas áreas, sucateando ainda mais a
saúde e educação públicas, como ilustra bem a reportagem da BBC no link a
seguir: http://www.bbc.com/portuguese/brasil/2016/05/160517_desvinculacao_saude_ab.
O fato das grandes empresas de
planos de saúde serem também grandes financiadores de campanhas, inclusive os
maiores financiadores das últimas campanhas do novo Ministro da Saúde Ricardo
Barros, também deve ser pura coincidência.
Mas e nossa imprensa, por que continuam dizendo que a
Previdência Social é o grande vilão do orçamento? (Veja você mesmo como o site
da Rede Globo trata a questão do que chamam de “rombo” da Previdência: http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/sem-mudar-fator-previdenciario-deficit-do-inss-ja-iria-r-7-tri-em-2060.html .
Por que as poucas família que
controlam toda a nossa mídia (jornais, TVs, rádios e revistas) querem que os
assalariados trabalhem até a morte e não discutem com clareza assuntos
importantes como auditoria ou renegociação da dívida, ou ainda taxação de
grandes fortunas? Por que os especuladores financeiros e donos de bancos
continuam comprando seus helicópteros, lanchas e carros de luxo às custas do
sangue da grande maioria da população e não há um Globo Repórter especial para
denunciar esse escândalo?
Não vou responder a pergunta. Vou
apenas citar alguns fatos abaixo e deixar que cada um chegue às próprias
conclusões:
- Segundo a Revista Forbes, conforme
publicação de 2014, a família Marinho, dona da Rede Globo, é a família mais
rica do Brasil, com uma fortuna estimada em quase 30 bilhões de dólares: http://www.valor.com.br/empresas/3547766/familia-marinho-e-mais-rica-do-brasil-diz-forbes .
- Segundo reportagem da Revista Carta Capital, em 2015,
mesmo com a crise financeira, o Grupo Globo aumentou seu lucro líquido,
saltando para mais de 3 bilhões de reais, e grande parte desse lucro foi
conseguido com o “mercado financeiro”, especialmente
com a vulnerabilidade do câmbio e com a subida da taxa básica de juros. A reportagem
é excelente e recomendo que tirem um tempo para leitura: http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/em-meio-a-crise-economica-globo-tem-lucro-liquido-superior-a-r-3-bi .
- A TV Globo vendeu mais de 3 bilhões
de reis em cotas comerciais para 2006. Entre os seus principais parceiros estão
os Bancos Itaú, Santander e Bradesco: http://propmark.com.br/midia/globo-vende-mais-de-r-3-bilhoes-de-cotas-comerciais-para-2016 .
Enfim, como disse antes, são só
fatos. Cada um pode ligá-los como achar mais adequado.
Mas vou terminar o texto exatamente
como comecei, com algumas perguntas para reflexão:
Será que a regulação da mídia e o
controle de propriedade dos meios de comunicação, evitando o monopólio e a
acumulação de meios por uma mesma família, como existe em quase todos os países
desenvolvidos do mundo, pode ser considerado censura ou ataque à liberdade de
imprensa?
Será que uma mídia mais diversificada
e plural, com espaços para organizações públicas e não governamentais, não
seria muito bom para o desenvolvimento da nossa sociedade e para uma
participação mais ampla da mesma em temas polêmicos e importantes?
Será que são os políticos os únicos
culpados pela pobreza, miséria, fome e violência existentes na sociedade
brasileira?
Até onde pode chegar a ganância e o
egoísmo em um ser humano?
“Quanto vale a vida”?
Até quando usarão a tal
“meritocracia” para explicar o inexplicável e para justificar injustiças
flagrantes?
A quem interessa que sejamos tão
divididos?
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Aproveito o espaço para agradecer ao ótimo
jornalista esportivo Hiltor Mombach, do Jornal Correio do Povo (o único jornal
gaúcho que acredito ainda valer a pena a leitura), por publicar uma pequena
mensagem que enviei para ele sobre a falta de público nos nossos estádios de
futebol, a qual coloco o link a seguir: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/hiltormombach/?p=45866
Dá um bom tema, quem sabe, para um
próximo texto.
Quem se interessar por esporte, principalmente
sobre o futebol gaúcho, segue o link do blog do Hiltor Mombach: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/hiltormombach/